Réquiem para um coqueiro

Em meados da década de 90, quando o telefone celular ainda era um artigo de luxo para a esmagadora maioria dos brasileiros, tínhamos quatro coqueiros no quintal de casa.

Periodicamente vinha um rapaz para limpá-los e comprar os nossos cocos. Ele vendia coco na praia. Não lembro bem agora com que frequência ele vinha, apenas que quando aparecia era porque já estava caindo coco, perigando mandar gente ao encontro de Deus. Também não tínhamos telefone fixo. Não obstante, religiosamente ele estava lá, o galego banguelo, no período dos cocos em queda, trepando no coqueiro com espantosa agilidade e nos livrando de cocadas no cocuruto.

Era uma festa. O quintal se enchia de palha de coqueiro e outros bregueços. Eu e meu irmão levávamos a palha para o lixão do bairro — não sem antes, evidentemente, separar as melhores para fazer pipa. Depois tomávamos água de coco, pois o galego sempre deixava uns pra gente.

Alguns anos mais tarde meu pai comprou o seu primeiro celular. E o galego do coco, será que comprou o dele também? Nunca soubemos. Afinal, meu pai tinha mandado cortar os coqueiros e cimentou o quintal.

Hoje o quintal está sempre limpo. Mas desse cimento, onde agora está enterrada essa parte da minha infância — que Deus a tenha — , nunca mais cresceu nada. Só saudade.

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