Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2023

Dois cavalos

Um amigo, a quem recomendei Peixe grande e suas histórias maravilhosas  e saiu um tanto frustrado do filme, dizendo que esse negócio da fantasia como substituta da realidade é perigoso, que precisamos ter cuidado com isso, piriri, pororó, contou-me, vejam vocês, um causo que não faz outra coisa senão confirmar a premissa mesma do longa. Ele e sua esposa passavam a lua de mel num desses cenários paradisíacos do litoral sul de Pernambuco. Ali pela campina próxima a onde estavam hospedados pastava um cavalo cuja brancura dava o contraste perfeito com o azul do mar. Os pombinhos ficaram a tal ponto encantados com a magnificência do bicho que, ao voltarem para o Rio de Janeiro, recomendaram a mesma pousada a um casal amigo somente por causa do cavalo. Mas tal não foi a frustração dele quando esse casal de amigos retornou com a foto do pretenso manga-larga do meu amigo. Ele não passava de um pangaré feridento. Meu amigo ficou confuso. Não era possível tratar-se do mesmo cavalo. Podia jurar q

Réquiem para um coqueiro

Em meados da década de 90, quando o telefone celular ainda era um artigo de luxo para a esmagadora maioria dos brasileiros, tínhamos quatro coqueiros no quintal de casa. Periodicamente vinha um rapaz para limpá-los e comprar os nossos cocos. Ele vendia coco na praia. Não lembro bem agora com que frequência ele vinha, apenas que quando aparecia era porque já estava caindo coco, perigando mandar gente ao encontro de Deus. Também não tínhamos telefone fixo. Não obstante, religiosamente ele estava lá, o galego banguelo, no período dos cocos em queda, trepando no coqueiro com espantosa agilidade e nos livrando de cocadas no cocuruto. Era uma festa. O quintal se enchia de palha de coqueiro e outros bregueços. Eu e meu irmão levávamos a palha para o lixão do bairro — não sem antes, evidentemente, separar as melhores para fazer pipa. Depois tomávamos água de coco, pois o galego sempre deixava uns pra gente. Alguns anos mais tarde meu pai comprou o seu primeiro celular. E o galego do coco, será